Cena do pequeno Sebastião, radiante vestido de Elsa, emocionou profundamente a videomaker Mariana Lopes, de 37 anos. Na ocasião, seu filho pulava de alegria por vestir a fantasia de sua princesa favorita — a protagonista da animação Frozen. “Hoje, estou muito feliz, mãe”, disse o menino enquanto brincava de congelar castelos.
“Ele jogava terra para cima, falando que estava congelando todo mundo. Entrou mesmo dentro desse universo lúdico da história do Frozen”, disse Mariana em entrevista exclusiva à CRESCER. Mãe também de um menino de 11 anos, a videomaker mora com a família no interior de São Paulo. Em suas redes sociais (@agoratavalendo), ela destaca sua luta contra o preconceito e os estereótipos sociais que tentam impor limites sobre o que uma criança pode ou não brincar.
A paixão de Sebastião por Elsa começou quando ele tinha apenas três anos. Ao assistir ao filme, o pequeno se encantou com a trilha sonora e com o poder da personagem de congelar tudo que via pela frente. “A história de Elsa mostra uma menina que todo mundo falava que ela não podia fazer algo e, no fim, ela vai e faz. Acho que ele se identificou com a história”, contou a mãe.
Em meio à pandemia, em 2020, Sebastião surpreendeu sua mãe ao dizer que queria se vestir de Elsa. Antes disso, ele já tinha pedido para usar uma saia rodada. Criado em uma família umbandista, o garotinho sempre se encantou ao ver as mulheres dançando com suas saias coloridas durante as apresentações nos terreiros.
No início, Mariana confessa que foi um pouco resistente ao se deparar com o pedido do filho de vestir um vestido. “Senti uma pequena confusão dentro de mim, me questionando se iria deixá-lo usar uma roupa considerada de menina”, ela relatou. “Mas depois, pensei: ‘ele é uma criança. Pelo amor de Deus! É só uma fantasia”.
Ao abrir o baú de fantasias da mãe, Sebastião se encantou com a pequena fantasia de Elsa que encontrou. “Foi uma loucura, ele queria usar a fantasia o dia inteiro”, lembrou a videomaker. Na época, Mariana enfrentou muitas críticas de seus familiares que diziam que Sebastião não podia usar vestido. “Como iria explicar que ele não poderia usar uma fantasia, porque um adulto acha que ele vai ser gay? Como explicar para uma criança o que é ser gay? Comecei a bater de frente com a minha família e com todo mundo à minha volta de que era só uma fantasia”, disse ela.
No seu aniversário de 4 anos, Sebastião realizou seu sonho de ter uma festa temática da Elsa. Nos anos seguintes, ele pediu uma festa com o tema de Alice no País das Maravilhas e, mais tarde, de todas as princesas.
Luta contra o preconceito
O amor de Sebastião, hoje com 8 anos, pelo mundo das princesas já despertou revolta de muitas pessoas nas redes sociais. Diante desse cenário, muitas vezes até ameaçador, Mariana enfrenta o grande desafio para proteger os filhos dos haters. No entanto, ela destaca que sempre reforça para as crianças que elas não estão fazendo nada de errado. “Tento empoderá-los o máximo que posso. Digo: ‘você pode ter o cabelo comprido, usar roupa de unicórnio ou camisa de futebol”, ela ressaltou.
A videomaker mencionou ainda que seu outro filho, Vicente, também já foi atacado por ter cabelo comprido. Por isso, ela decidiu conversar com as crianças sobre temas como homofobia, transfobia e racismo. “Óbvio que não queria falar disso com crianças de 8 e 11 anos, mas, infelizmente, tive que abrir esse assunto”.
Em dezembro, Mariana teve sua conta no Instagram derrubada ao ser acusada de estar transformando seu filho em menina, mas, dias depois, ela recuperou seu perfil novamente. A videomaker destaca que não entende porque recebe tantas críticas. “Não estou fazendo nada de errado, não sexualizo meu filho.
Ela também explica que seu Sebastião não é uma criança trans. “Ele se reconhece como um menino, mas gosta de coisas que a sociedade estipulou ser de menina”. Atualmente, Sebastião também faz acompanhamento psicológico.
Ao ter sua conta de volta, Mariana se sentiu mais motivada a não desistir de sua luta. “Por que tenho que ficar em uma bolha se não estou fazendo nada de errado? As pessoas não querem que meu filho brinque. Se todos os adultos se conscientizarem de que o preconceito mata as pessoas, o mundo pode ser diferente”, afirmou.
Como recado às famílias, Mariana lembra que a primeira infância passa rápido, assim, é essencial que os pais aproveitem o máximo de tempo com os filhos, respeitando suas individualidades e diferenças. “O amor salva vidas e o acolhimento mais ainda”, finalizou a mãe.
Via G1